”Lampião e Maria Bonita” de MT têm sonho de estudar para ler a bíblia. Edmundo começou a trabalhar aos 10 anos Maria Petronília aos oito.
Colaboração de Ir. Ana Helena,RSCM 01/03/2016
Casal está sendo alfabetizado em barracão de cooperativa (Foto: Reprodução/ TVCA)
Eles têm apelido de personagens famosos da história do Brasil, mas vivem em um completo anonimato. O ‘Lampião e a Maria Bonita’ de Mato Grosso moram no loteamento Hollywood, em Várzea Grande, região metropolitana de Cuiabá. Marido e mulher, os dois que trabalham como catadores de lixo reciclável têm um sonho que para muitos parece pequeno: aprender a ler.
Eles estão sendo alfabetizados com aulas em um barracão da cooperativa de catadores de materiais recicláveis, naquela cidade, mas não estão matriculados.
O apelido do casal vem do tempo em que os dois trabalhavam no lixão. O trabalho era difícil. Eles iam para o monte de entulho às 16h e voltavam para casa às 6h da manhã no dia seguinte. Para conseguir enxergar em meio à escuridão um lampião sempre estava em punho. Edmundo Gonçalves, de 55 anos, virou Lampião e Maria Petronília da Silva, de 66 anos, virou Maria Bonita.
“Esse nome foi um senhor do lixão que colocou na gente. À noite para ver no escuro só com lampião. Daí viramos Lampião e Maria Bonita, e pegou”, conta Edmundo.
Há algum tempo eles já não usam mais o lampião. O trabalho duro no lixão também ficou para trás. Hoje, eles são catadores de lixo reciclável em uma cooperativa. No entanto, o sonho de aprender não ficou no passado.
“Nós vamos na igreja e eles dão os cânticos em um papel, mas a gente não sabe acompanhar na folha. Tá tudo escrito, mas a gente não sabe ler”, contou Maria Petronília.
Foi no galpão da própria cooperativa que o sonho começou a tomar forma. Incentivado pela mulher, Edmundo começou a frequentar as aulas. “Nunca imaginei que ia conseguir estudar. Na verdade eu nem queria, foi minha ‘velha’ que me incentivou a vir para a aula. Agora, até soletrar eu já consigo”, conta o catador.
Para ele, o maior sonho é poder distinguir o número e as linhas dos ônibus quando precisa de locomoção. “Eu quero aprender a ver os números sem perguntar para ninguém. Às vezes alguém sacaneia a gente e faz pegar ônibus errado”, disse.
O maior sonho de Maria Petronília é ler a bíblia. “Tenho fé em Deus que eu vou conseguir um dia”. Na cômoda dois exemplares do livro a esperam ansiosamente. Ela já aprendeu todas as letras do alfabeto e as recita com todo orgulho. No entanto, nada a deixa mais satisfeita que o novo título de eleitor: ela refez o documento, mas desta ao invés da digital escreveu com o próprio punho o nome na cédula.
Eles apontam a vida difícil na infância como causa para abandonar os estudos. Edmundo começou a trabalhar aos dez anos para ajudar o pai a manter a casa. Maria Petronília iniciou a lida na roça aos oito.
Agora, depois de criar os filhos a atenção está voltada para os estudos. As férias da sala de aula do casal estão acabando. Nesta terça-feira (1º), eles retornam ao barracão com lápis e papel na mão para as aulas que duram uma hora e meia.
MT Agora – G1 MT