Em Tempo de Capítulo… segue uma sugestão para um bom momento de reflexão e partilha na sua Comunidade. Tivemos entre nós, Comunidade Gailhac/BH, e me deu vontade de sugerir também a outras Comunidades. Fica aqui este “aperitivo” de um artigo maior. |
Do Papa Francisco
aos membros dos Institutos de Vida Consagrada
e Sociedades de Vida Apostólica
Sexta-feira, 4 de maio de 2018 (EXTRATOS)
Questionei-me: quais são as coisas que o Espírito quer que se mantenham fortes na vida consagrada? E o pensamento voou, foi, deu voltas… E pensei: estes são pilares que permanecem, que são permanentes na vida consagrada. A prece, a pobreza e a paciência.
A oração, a prece é voltar sempre à primeira chamada. Qualquer oração, talvez uma oração na necessidade, mas é sempre voltar àquela Pessoa que me chamou. A oração de um consagrado, de uma consagrada é voltar ao Senhor que me convidou a estar próximo d’Ele. Voltar a Ele que me fitou nos olhos e me disse: “Vem. Abandona tudo e vem” … E naquele momento a alegria é deixar o muito ou o pouco que temos. Cada um sabe o que deixou: deixar a mãe, o pai, a família, uma carreira… É verdade que há quem procura a carreira “dentro”, e isto não é bom. Naquele momento encontrar o Senhor que me chamou para O seguir de perto. Cada prece é voltar a isto. É a oração que faz com que eu trabalhe para aquele Senhor, não para os meus interesses ou para uma instituição onde sou empregado, não, para o Senhor… “Eu tenho um trabalho demasiado arriscado que me ocupa o dia inteiro…”. Pensemos numa consagrada dos nossos dias: Madre Teresa. A Madre Teresa ia até “procurar problemas”, pois ela era como uma máquina para criar problemas, porque ia aqui, ali e além… Mas as duas horas de oração diante do Santíssimo, ninguém lhas tirava… Não se pode viver a vida consagrada, não se pode discernir aquilo que está a acontecer sem falar com o Senhor… Prece! E a Igreja precisa de homens e mulheres que rezem, neste momento de tanto sofrimento na humanidade.
O segundo «p» é a pobreza. “A pobreza é a mãe, é o muro de contenção da vida consagrada”. É “mãe”, diz Santo Inácio a nós, jesuítas. Interessante: ele não diz a castidade, que talvez esteja mais relacionada com a maternidade, a paternidade, não: a pobreza é mãe. Sem pobreza não há fecundidade na vida consagrada. E é “muro”, defende-te. Certamente defende-te do espírito da mundanidade. Nós sabemos que o diabo entra pelos bolsos. Todos nós o sabemos. E as pequenas tentações contra a pobreza são feridas à pertença ao corpo da vida consagrada. Pobreza segundo as regras, as constituições de cada congregação: a pobreza de uma congregação ou de outra não é a mesma. As regras dizem: “a nossa pobreza vai por este caminho”, “a nossa vai por aquele”, mas há sempre o espírito de pobreza. E isto não se pode negociar. Sem pobreza nós nunca poderíamos discernir bem o que está a acontecer no mundo. Sem o espírito de pobreza. “Deixa tudo, dá aos pobres”, disse o Senhor àquele jovem. E aquele jovem somos todos nós.
E terceiro, a paciência. “Mas, padre, o que tem a ver aqui a paciência?”. A paciência é importante. Habitualmente nós não falamos dela, mas é muito importante. Olhando para Jesus, a paciência é aquilo que Jesus teve para chegar até ao fim da sua vida. Quando Jesus, depois da Ceia, foi ao Horto das Oliveiras, podemos dizer que naquele momento, de modo especial, Jesus “entrou na paciência”. “Entrar na paciência”: trata-se de uma atitude de cada consagração, que vai das pequenas coisas da vida comunitária ou da vida de consagração, que cada qual tem, nesta variedade que o Espírito Santo faz… Das pequenas coisas, das pequenas tolerâncias, dos pequenos gestos de sorriso quando tenho vontade de dizer palavrões…, até ao sacrifício de si mesmo, da vida. Paciência. Aquele “carregar sobre os ombros” (hypomoné) de São Paulo: São Paulo falava de “carregar sobre os ombros”, como virtude cristã. Paciência. Sem paciência, isto é, sem capacidade de sofrer, sem entrar “em paciência”, uma vida consagrada não se pode sustentar, será a meio. Sem paciência, por exemplo, compreendem-se as guerras internas de uma congregação, compreendem-se. Porque não tiveram a paciência de se suportarem um ao outro, e vence a parte mais forte, nem sempre a melhor; e nem sequer aquela que é vencida é a melhor, porque é impaciente. Mas não só paciência na vida comunitária: paciência diante dos sofrimentos do mundo. Carregar sobre os ombros os problemas, os sofrimentos do mundo. “Entrar em paciência”, como Jesus entrou em paciência para consumar a redenção. Este é um ponto-chave, não só para evitar estes litígios internos que são um escândalo, mas para ser consagrado, para poder discernir. A paciência.
E também paciência face aos problemas comuns da vida consagrada: pensemos na escassez de vocações. Não chegam vocações. E quando não há esta paciência… O que estou para dizer aconteceu: eu conheço pelo menos dois casos, num país muito secularizado, que dizem respeito a duas congregações e às duas respetivas províncias. A província iniciou aquele caminho que é também um caminho mundano, do “ars bene moriendi”, a arte da boa morte… Fechar a admissão ao noviciado, e nós que estamos aqui, envelhecemos até morrer. Falta a paciência e as vocações não vêm? Vendemos e apegamo-nos ao dinheiro para algo que possa acontecer no futuro. Isto é um sinal que se está próximo da morte: quando uma Congregação começa a apegar-se ao dinheiro. Não tem paciência e cai no segundo “p”, na falta de pobreza.
(Contribuição de Ir.Rosinha,RSCM)