Uma das razões pelas quais escolhemos ir a João Pessoa, na Arquidiocese da Paraíba, foi porque Maria de Lourdes Machado e outras que nos aconselharam nos disseram que era uma diocese onde receberíamos ajuda para nos inserir na vida dos pobres, pois havia uma boa estrutura pastoral sob a orientação do bispo Dom José. Dom José foi o primeiro bispo negro no Brasil, nomeado em setembro de 1957 e, durante o Concílio Vaticano II, enviado como arcebispo para a Paraíba, vizinho de Dom Helder Camara. Ele foi advertido por alguns para não seguir os caminhos de Dom Helder, que era chamado de comunista. Desde então, eles eram amigos firmes, ambos empenhados em fazer tudo o que podiam para encorajar os pobres a lutar pelos seus direitos e trabalhar pela democracia, apoiados pelo quadro das comunidades cristãs de base nas dioceses do nordeste. Dom José caminhava todos os dias de sua casa para os escritórios da Cúria em chinelos, conversando com os jovens trabalhadores da rua, ganhando a vida por “cuidar” de carros, e outros que ele conheceu no caminho. Nós poderíamos ir à sua casa, bater na porta e entrar para falar com ele sem nehuma cerimônia. Ele era um profeta para os nossos tempos, em sua simplicidade e a defesa dos pobres e oprimidos. Em nossos primeiros anos em João Pessoa, ele fechou a catedral para celebrar a Missa da meia-noite de Natal na praça em frente ao Palácio do Governador, onde as famílias que haviam sido expulsas de suas terras com violência foram acampadas sob placas de plástico preto, como um protesto, esperando obter o direito de retornar às suas casas. Dom José iniciou o primeiro Centro de Direitos Humanos no Brasil, para dar suporte legal a todos os que foram tratados injustamente e ajudar a organizar os pobres para lutar pelos seus direitos. Quando Mary voltou de fazer o curso ISL e não tinha para onde atender clientes, Dom José permitiu que ele usasse seu escritório na Cúria.
Dom José morreu em 27 de agosto deste ano. A data foi mais uma coisa que ele compartilhou com Dom Helder, que morreu em 1999, naquele dia.
De Mary Jo McElroy, em nome das RSCM que viveram em João Pessoa/Brasil e se sentiram apoiadas por Dom José.