Estudantes Haitianas do colégio SCM – Rio de Janeiro –

No ano de 2024, a equipe da Educação de Jovens e Adultos – EJA – do Colégio Sagrado Coração de Maria do Rio de Janeiro – recebeu cinco estudantes imigrantes/refugiadas do Haiti.

As atuais estudantes chegaram até a EJA por meio de demanda espontânea, buscando retomar as suas atividades escolares que, outrora, deixaram para trás em sua terra natal. Entretanto, por meio de uma parceria com o extinto Centro de Referência e Atendimento para Imigrantes do Rio de Janeiro (CRAI-Rio), atendemos, em anos anteriores (2020), estudantes portugueses, peruanos e venezuelanos, que não deram continuidade ao processo educacional.

Na admissão das estudantes haitianas, não houve dificuldade na comunicação entre a Assistente Social e as alunas, pois a técnica conseguiu entender perfeitamente quando as estudantes falavam em francês, não havendo necessidade de interlocução ou mediação. A entrevista de análise socioeconômica aconteceu de maneira presencial, com a apresentação de toda a documentação necessária para a concessão da gratuidade educacional. Todas as alunas possuem o visto permanente, o que facilitou a apresentação da documentação exigida a fim de comprovar a situação de vulnerabilidade social.

Todas as estudantes trabalham de maneira informal, no bairro de Copacabana, e apresentaram renda per capita familiar condizente, conforme a legislação. Todas residem em comunidades com alta taxa de letalidade violenta, em decorrência da violência urbana e tráfico de entorpecentes. Desta forma, todas as estudantes receberam a gratuidade educacional integral e, hoje, encontram-se no ciclo de alfabetização (anos iniciais) da EJA.

Cotidianamente, vivenciamos os desafios que muitos refugiados têm ao tentar inserir-se no sistema educacional formal. As barreiras encontradas pelas alunas haitianas refletem a problemática de como a escola precisa estar preparada para pensar a recepção de imigrantes e disponibilizar serviços que atendam suas necessidades burocráticas, especialmente o acesso a direitos sociais, como educação.

Nossa missão, ao acolhê-las, está além das questões educativas; está relacionada ao empoderamento feminino, à comunicação oral que elas necessitam e à sua representação como ser social e cidadã. Precisamos falar que as estudantes haitianas são multifacetadas e trazem experiências incríveis, que acrescentam diariamente ao processo educacional, pois a equipe pedagógica trabalha na perspectiva da educação intercultural e na concepção histórico-cultural para desenvolver reflexões necessárias para os anos iniciais da alfabetização.

Com diferentes histórias de vidas e com diferentes perspectivas, a equipe pedagógica da EJA faz diariamente o exercício da troca de empatia. É necessário um movimento duplo, o de auto percepção e o da percepção do outro. É nessa esteira que construímos a relação socioeducacional com as estudantes haitianas.

Considerando a trajetória de vida dessas estudantes, é notório que a imigração denota várias implicações e razões; e, para entendê-la, é preciso refletir sobre a história de cada indivíduo; cada imigrante, em cada tempo, tem justificativas e razões distintas para sair de seu país que, na sua maioria, são aspectos sociais, econômicos, culturais e educacionais.

Rafaela Seabra – Assistente Social do Colégio Sagrado Coração de Maria – Rio de Janeiro