Mère Saint Jean (1809-1869): uma vida de renascimentos
“Deus não quer ser Ele só a fazer o bem, quer a nossa cooperação”
(GS/5/III/86ª. V.II, p.516)
2 de fevereiro de 1809. Em Murviel, pequena comuna no sudeste da França, nascia Appolonnie, única menina dentre os quatros filhos da abastada família Pelissier. Desde a infância já demonstrara certa responsabilidade com os estudos além de disposição para aprender os valores cristãos que faziam parte do cotidiano familiar. Seus cadernos escolares da adolescência “[revelavam] a seriedade com que ela se aplicava ao estudo e o seu elevado grau de conhecimento em diversas matérias”[1] , em meio a uma vida tranquila, sem maiores sobressaltos, como convinha à sua classe social. No entanto, como não somos inteiramente donos do nosso destino, a jovem Appolonnie perderia seu irmão Jean Baptiste, que tinha apenas 20 anos e, alguns anos depois, faleceriam sua mãe e seu pai. Por aquele novembro de 1830, apenas com a companhia do irmão Clément Napoléon, sua vida é sofrimento e desamparo.
Também por aqueles tempos Appolonnie já tinha um pretendente, Eugène Cure. Suas famílias eram bastante próximas e o casamento de seus respectivos filhos seria celebração de amizade. Todavia, como costuma acontecer, a partilha de bens herdados foi motivo de litígio entre ela e seu irmão, inclusive apoiado por tios que temiam nada receber, caso Appolonnie se casasse com Eugène. Foram em vão as ameaças para dissuadi-la do casamento ao ponto de ela abrir mão de parte de sua herança, com documento lavrado e assinado em abril de 1831. Lesada em seus bens materiais, mas inteira em si mesma, casa-se então com Eugène Cure, em 11 de abril de 1831. Tinha apenas 22 anos e já era hora de recomeçar a vida, em outros moldes, outra casa, em outra cidade, Béziers. Era hora de renascimentos. Appolonnie e Eugènne não tiveram filhos.
Nos Salmos (139:17) lê-se que “como são preciosos para mim os teus pensamentos, ó Deus! Como é grande a soma deles!”. Justamente, por esses insondáveis desígnios divinos, Apollonie e Eugène, em Béziers, passam a se relacionar com Pe. Gailhac e a colaborar com ele em suas obras assistenciais. Já naquela época, Pe. Gailhac tudo fazia para administrar e superar as dificuldades – de todas as ordens – do seu Refúgio do Bom Pastor. Lá o casal encontrou refúgio, no sentido de amparar e de ser amparados.
Uma curiosidade: “de acordo com o testemunho das Religiosas do Sagrado Coração de Maria, Eugène e Appolonie teriam decidido que aquele que sobrevivesse à morte do outro se entregaria totalmente às obras do Padre Gailhac”[1]. Coube a Appolonie essa entrega, que ela assumiria até sua morte, em 1869, na condição de co-fundadora e primeira superiora do Instituto das Religiosas do Sagrado Coração de Maria. Nascia assim a Mère Saint Jean!