JUACY da SILVA – Tempo da criação e a ecologia integral –

Há 35 anos (em 1989) as Igrejas Ortodoxa “deu o ponta pé” inicial para o surgimento das celebrações do TEMPO da CRIAÇÃO, estabelecendo o dia 01 de Setembro como o “Dia Mundial de Oração pela criação” e essas celebrações evoluíram com a adesão do Conselho Mundial das Igrejas (evangélicas) e, em 2015, o Papa Francisco oficializou a citada celebração, em um contexto ecumênico. A cada ano é escolhido um tema para ser o centro das celebrações no mundo todo.

“A celebração ecumênica do Tempo da Criação, um período ecumênico de oração e ação para cuidar da casa comum. O Papa Francisco exorta que permaneçamos ao lado das vítimas da injustiça ambiental e climática ao ouvir “os batimentos do coração: o nosso, o das nossas mães e das nossas avós, o pulsar do coração da criação e do coração de Deus”. Vatican News, 31/08/2023

“Tempo da Criação 2024: “Esperar e agir com a Criação” Uma reflexão teológica inspirada na Carta aos Romanos será o ponto de partida para a celebração anual organizada pelo Movimento Laudato Si’ para rezar e responder ao clamor da Criação. A abertura será em 1º de setembro com um encontro ecumênico, seguido por uma reflexão sobre a eliminação dos combustíveis fósseis” Fonte Vatican News, 06/02/2024.

Como sempre tem acontecido há anos, entre 01 de Setembro (Dia Mundial de Oração pelas obras da Criação) até 04 de Outubro (Dia de São Francisco de Assis, Patrono e Padroeiro da Ecologia Integral), os cristãos em geral, Católicos Romanos, Ortodoxa e também as Igrejas Evangélicas voltam-se para uma reflexão mais profunda sobre o que estamos realizando em relação `as “obras do Criador”.

Este ano (2024) as comemorações, em uma dimensão Ecumênica mundial, que darão início a este Tempo da Criação terá como tema central “Esperar e agir com a Criação”  e colocará em pauta um tema conjuntural importante, que ao longo de quase  meio século, os interesses das grandes corporações e das principais economias do mundo (G20) impedem que seja efetivado.

Este tema é o fim do uso dos combustíveis fósseis (Carvão, Petróleo e Gás Natural), que, através de seus subprodutos são a principal causa da produção dos gases de efeito estufa, que provoca o aquecimento global e é o grande responsável pela mudança climática, na verdade uma grave crise ou emergência climática.

Por mais que a comunidade científica internacional, principalmente o Painel Intergovernamental sobre o Clima (IPCC) da ONU, vem nos alertando quanto ao rumo que a humanidade, melhor dizendo, os grandes interesses econômicos e os países que detem as maiores economias do mundo, principalmente o G20, do qual o Brasil faz parte, tem impedido que este tema seja pautado racionalmente em todas as COPs, como aconteceu na última no ano passado, em Dubai e, com certeza, deverá acontecer, na COP 29 neste ano no Azerbaijão (um país cuja economia é baseada no petróleo) e também deverá acontecer na COP 30, que será realizada ano que vem em Belém, no Estado do Pará.

O que se busca é estabelecer uma data limite, a partir da qual a produção e o uso de combustíveis fósseis seja proibida no mundo todo, sendo que o tempo que for estabelecido, será o período para que seja feita realmente a transição energética, ou seja, a substituição das fontes de energia suja, oriunda dos combustíveis fósseis,, poluentes e que estão destruindo o Planeta, por fontes limpas, renováveis e não poluentes, como a energia solar, eólica, das marés, a bio energia e outras mais.

Concomitante com a transição energética é fundamental também combater todas as demais formas de poluição que geram a produção de gases de efeito estufa e agravam a crise climática que tem provocado com maior intensidade e com maior frequência no mundo todo, inclusive no Brasil os desastres  ambientais, em cuja origem estão as ações irracionais e destruidoras da natureza e também da humanidade.

Dentre essas podemos mencionar o desmatamento, as queimadas (inclusive os grandes incêndios florestais que destroem centenas de milhões de hectares de florestas, como tem acontecido no Pantanal, no Cerrado e na Amazônia, por exemplo, que degradam o solo, as águas e poleum o ar, o consumismo, o desperdício que aumentam a geração/produção de lixo/rejeitos sólidos que degradam todos os cursos d’água, transformando os mares e oceanos em grandes lixeiras planetárias, provocando o aquecimento de suas águas, aumentando os furacões, a elevação do nível dos oceanos que ameaçam mais de dois bilhões de pessoas que poderão ser atingidas dentro de duas ou três décadas, como a ONU tem alertado continuamente.

No Brasil, além desses temas gerais, universais, segundo o Calendário Ecológico, durante o TEMPO DA CRIAÇÃO, temos alguns dias especiais, em torno dos quais tanto as Igrejas Cristãs (Católica e Evangélicas), bem como outras religiões, crenças e filosofias que valorizam as Obras da Criação e se preocupam com as questões socioambientais poderiam promover alguns momentos ou eventos que estimulem as pessoas a despertarem a consciência ecológica.

Transcrevo aqui este Calendário Ecológico, referente ao período do TEMPO DA CRIAÇÃO 2024: mês de setembro:01 Dia Mundial de Oração pelo Cuidado da Criação; Início do Tempo da Criação; 03 Dia do Biólogo; : 05 Dia da Amazônia; 07 Dia Mundial do Ar Limpo (Combate `a poluição do Ar); 11 Dia Nacional do Cerrado; 16 Dia Internacional de luta para a preservação da Camada de Ozônio19 Dia Mundial de luta pela Limpeza das Águas (ver também 22 de Março)21 Dia da Árvore, que também nos remete ao Dia das Florestas; 22 Dia Nacional em defesa da Fauna29 DIA Internacional de Conscientização sobre Perda e Desperdício de Alimentos (Dia Internacional do Deperdício Zero); 29 Dia Mundial dos Rios.

E nos quatro primeiros dias de Outubro, ainda no TEMPO DA CRIAÇÃO, temos 01 Dia do Vegetarianismo; 03 Dia Nacional da Agroecologia; 04 Dia de São Francisco de Assis; 04 Dia da Natureza; 04 Dia dos Animais, encerrando, assim, as celebrações do TEMPO DA CRIAÇÃO, um momento extremamente rico tanto na vida das Igrejas Cristãs e demais religiões quanto das Instituições Governamentais quanto não Governamentais, inclusive com o apoio dos veículos e meios de comunicação que tem um grande papel neste despertar ecológico.

Tendo em vista a mística do Tempo da  Criação e o Calendário Ecológico, imaginamos que, no caso das Igrejas Cristãs, seria oportuna uma reflexão bíblica teológica , ao longo desses quarenta dias, em torno de questões concretas relacionadas com o meio ambiente/ecologia integral que passam a ser um imperativo categórico, conforme estabelecido pelo filósofo KANT, para quem, “todo ser humano deve agir de acordo com princípios morais”

Só assim, de fato, essas instituições religiosas podem demonstrar na prática que estão preocupadas com o destino da Casa Comum, do Planeta Terra e não apenas com a dimensão transcendental e que cabe a todos os cristãos um papel importante neste cuidado com o futuro do planeta e das próximas gerações.

Ao escrever e publicar a Encíclica Laudato Si, um marco importante no pensamento social da Igreja, inserida no contexto da Doutrina Social da Igreja, o Papa Francisco utilizou e seguiu o Método VER, JULGAR e AGIR, propugnado pela Igreja Católica para suas ações evangelizadoras no contexto da dimensão sociotransformadora.

Daí a relação entre TEMPO DA CRIAÇÃO e a ECOLOGIA INTEGRAL, título desta minha reflexão. O Capítulo II da Laudato Si, etapa do método JULGAR, trata do EVANGELHO DA CRIAÇÃO, que representa a vinculação dos princípios da fé cristã com as obras da criação e com o Criador.

Tendo em vista também que a Campanha da Fraternidade do próximo ano, 2025, cuja preparação já está em andamento pela CNBB terá como Tema FRATERNIDADE E ECOLOGIA INTEGRAL, imagino que o TEMPO DA CRIAÇÃO que se aproxima seria um bom momento para que em todas as Arquidioceses, Dioceses, Paróquias e as mais de CEM MIL COMUNIDADES CATÓLICAS espalhadas pelo Brasil afora, pudessem refletir sobre este Capítulo da Laudato  Si, além, claro, de reflexões sobre os eventos constantes do Calendário Ecológico.

“Todos aqueles que estão empenhados na defesa da dignidade das pessoas podem encontrar na fé cristã, as razões mais profundas para  tal compromisso… Se quisermos, de verdade, construir uma ecologia (integral) que nos permita reparar  tudo o que temos destruído, então, nenhum ramo  das ciências e nenhuma forma de sabedoria  pode ser preterida, NEM SEQUER A SABEDORIA  RELIGIOSA, com sua linguagem própria” Papa Francisco, Laudato Si, Capitulo II – Evangelho da Criação – 1 – A Luz que a fé oferece.

Por ocasião da Solenidade de Encerramento do Tempo da Criação, em 04 de Outubro de 2023, novamente o Papa Francisco voltou a este tema e publicou a Exortação Apostólica LAUDATE DEUM,  dirigida “A todas as pessoas de boa vontade (e não apenas aos cristãos), sobre a CRISE CLIMÁTICA e, de forma, mais específica dirigiu suas exortações aos participantes da COP 28, que foi realizada em Dubai nos Emirados Árabes., presidida por um magnata da indústria do Petróleo.

Lamentavelmente, aquela COP, como todas as anteriores, falhou e frustrou o mundo todo ao não  conseguir colocar uma data efetiva para o FIM DA EXPLORAÇÃO E USO DOS COMBUSTÍVEIS FÓSSEIS.

Cabe ressaltar que os países do G20, que representam as maiores econômicas do planeta são responsáveis por mais de 78% de toda a degradação sócioambiental, incluindo o Brasil, teimam em defenderem uma economia da morte em lugar de uma economia da vida, impondo sacrifícios e morte aos demais países e também `a população pobre e excluída dessas econômicas centrais, o que gera uma grande INJUSTIÇA CLIMÁTICA MUNDIAL.

Este é o sentido e o significado das Celebrações do TEMPO DA CRIAÇÃO, que dentro de poucos dias as Igrejas Cristãs do mundo todo estarão promovendo.

Oxalá, também no Brasil as Igrejas Cristãs, principalmente a Igreja Católica, que tem no Papa Francisco seu líder e Pastor Mundial, demonstrem, de fato, que estão comprometidas com a defesa da Casa Comum, com o Planeta Terra e com as OBRAS DA CRIAÇÃO.

Isto exige mudanças de postura e compromissos e ações sociotransformadoras e não apenas palavras, homilias, meras boas intenções e nossas orações que devem ser acompanhadas também de MOBILIZAÇÃO PROFÉTICA.

Juacy da Silva, professor fundador, titular, aposentado da Universidade Federal de Mato Grosso, Sociólogo, mestre em sociologia, ambientalista, articulador da Pastoral da Ecologia Integral. 

Fonte: https://odocumento.com.br/juacy-da-silva-temo-da-criacao-e-a-ecologia-integral/ – publicado e acessado em 27/08/2024 -.

Juacy da Silva – foto créditos do site: “O documento-tradição tem força”