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PE. GAILHAC (1802-1849)

   

“Não há dicotomia entre o que Gailhac  ensinou e o que fez, entre a doutrina espiritual que pregou e a que viveu”[1]. Assim a Ir. Mary Milligan (1935-2011) descreveu o fundador da Congregação das Religiosas do Sagrado Coração de Maria. Não haveria melhor apresentação desse homem que inscreveu em si, como determinação existencial, o versículo do evangelista João (10: 10): “Eu vim para que tenham vida, e a tenham em abundância”.

            Nascido em Béziers, na França, em 13 de novembro de 1802, o jovem Gailhac viu de perto um mundo de “perturbações políticas, sociais e religiosas”[2] . Por isso mesmo, desde a sua juventude, sentiu-se chamado ao “dever e a necessidade de fazer amar a Deus. Muito novo ainda, Ele chamou-me ao sacerdócio”[3].  Foram 10 anos de estudos no Seminário, sempre com muitas horas dedicadas aos estudos.

            Daquele período resultaram cinco manuscritos com anotações de suas meditações e de suas resoluções. Em um desses cadernos, de 1822, encontram-se 17 resoluções que sempre guiariam a sua vida, sendo que na última delas lê-se: “Como resolução última, faço voto de amar a Deus de todo o meu coração e de Lhe ser tão fiel quanto Lhe fui infiel, tão reconhecido quanto fui ingrato para com um Deus tão bom”[4].

            Sacerdote aos 24 anos, jovem ainda, guardava consigo os ensinamentos paternos que sedimentaram seu caminho de modo a ser um padre bom e santo. Em uma carta de 1883 escreveu: “Nem todos os cristãos são chamados a uma vida de contemplação; devem, todavia, levar uma vida de fé, como o faziam os nossos pais, da qual eu próprio fui testemunha na minha infância. Quando o espírito cristão reinava ainda na nossa pátria…os pais faziam a oração da manhã e da noite, em família. Nas conversas, havia algumas palavras que mostravam uma fé viva e a religião tinha sempre um lugar no conjunto da vida”

Toda sua vida foi dedicada ao serviço dos mais pobres.  Em 12 de setembro de 1828, dois anos após sua ordenação, o jovem sacerdote será designado capelão do hospital de sua cidade. Lá viu de perto os desvalidos, abandonados à própria sorte. Em  especial, chamava-lhe a atenção as jovens que, por diversas razões, prostituiam-se.  Firme em seus propósitos de servir, de cuidar, de amar o próximo, Pe. Gailhac instalou, na mesma Béziers, uma casa onde pudesse abrigar essas jovens. Em novembro de 1834 ele recebeu a aprovação eclesiástica para a criação desse Refúgio. Começaria ali um projeto que, não sem dificuldades e  muitos obstáculos, cresceria pelo mundo afora e que perdura mediante as obras da Congregação Religiosa por ele fundada.

            A princípio, Pe. Gailhac contava com a ajuda e o apoio de leigos e leigas, o que foi suficiente para causar certas inquietações no ambiente religioso. Monsenhor Tigault, bispo da cidade, ordenou  então que a sua obra social, que crescia pouco a pouco, fosse entregue a religiosas de qualquer congregação. O Refúgio crescia e, ao longo dos primeiros  anos, Pe. Gailhac  também recebia o auxílio de benfeitores e benfeitoras que com ele colaboravam nos trabalhos assistenciais.

            . No entanto, foram precisos mais de 14 anos para que, enfim, Pe. Gailhac pudesse consolidar, institucionalmente, sua congregação: “Só 14 anos depois de a Obra ter começado é que veio colaborar comigo uma senhora ilustre [Apollanie Pelissier] à qual associei algumas jovens santas e muito bem educadas. E com autorização de M. Thibault, sucessor de M. Fournier, comecei a comunidade do Sagrado Coração de Maria”[1]

            Alguns dias antes da sua morte, em 25 de janeiro de 1890, o abade Jean Fontfroide, seu confessor e conselheiro de todas as horas lhe escreveu: “Toda a vossa vida tem sido consagrada ao Seu serviço. Quando vos entregastes a Deus, ficou combinado que vos daríeis totalmente com a condição de Ele fazer de vós um santo e vos permitir trabalhar na formação dos santos. Vós mantivestes a vossa promessa. Deus  manterá a sua”[2].

            A promessa do Pe. Gailhac, com a graça de Deus, vem sendo cumprida, dia a dia, e em vários países, nas diversas obras educacionais e sócio assistenciais  das Religiosas do Sagrado Coração de Maria

[1] M. MIlligan.  Para que tenham vida. p. 39;
[2] M. MIlligan.  Para que tenham vida., p.40;
[3] Ecrits, vol. 10, p.3425 apud M. MIlligan.  Para que tenham vida., p.41;
[4] Ecrits, vol. 1, p.7 apud M. MIlligan.  Para que tenham vida. Um estudo do espírito e carisma do Pe. Jean Gailhac fundador., p.41;
[5] Cf. La Vie Religieuse, Carta 1883;
[6] Ecrits, vol. II,, p.3653  apud M. MIlligan.  Para que tenham vida. p.41;
[7] Cop.Pub..fol. 1616 (summ, p.2781) apud apud M. MIlligan.  Para que tenham vida. Um estudo do espírito e carisma do Pe. Jean Gailhac fundador., p.50