Revolução costurada: As mulheres que bordam a própria resistência

Alvo principal das violações de direitos cometidas no processo de construção de barragens no Brasil, mulheres utilizam a ‘arpillera’ – uma técnica de bordado chilena – para contar histórias, entender sua realidade e fortalecer a luta por melhores condições de vida: “Passamos a ver na outra mulher uma forma de resistência”. Por Ivan Longo

No Chile ditatorial de Pinochet, nos anos 70, a técnica de bordado conhecida como ‘arpillera’ foi a maneira encontrada por um grupo de mulheres para denunciar as violações de direitos humanos do regime. Anos depois, o material produzido se tornou uma rica fonte de relatos e resgate à memória dos anos de chumbo. No Brasil, a técnica foi resgatada para os dias atuais e, da mesma forma que empoderava mulheres chilenas à medida em que contavam suas histórias, empodera também as brasileiras que perderam suas casas e foram alvo de inúmeros tipos de violações com a construção de barragens em todas as regiões do país.

De 2013 para cá, o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) já realizou cerca de 100 oficinas de ‘arpilleras’ com mulheres. São mães, filhas, solteiras, casadas, jovens e adultas que, por meio da técnica de bordado, costuram as histórias, as violações a que foram submetidas e, por meio do compartilhamento das experiências, criaram um espaço seguro para entender sua realidade e, assim, fortalecer a resistência e a luta por direitos.

“Mais que a oficina em si, é na verdade um processo de formação, de debates sobre a realidade que essas mulheres vivem, de violação de direitos. Está servindo como um estímulo para as mulheres se reunirem, discutirem sobre os problemas que elas vivem, mas também transformar isso em uma possibilidade de construir pautas e lutas”,

Esse empoderamento se dá até mesmo pelo fato de que as mulheres atingidas por barragens, além de terem seus direitos violados por serem mulheres, também sempre ocuparam um papel secundário em todo o processo de retiradas de famílias com a construção de hidrelétricas. Com a oportunidade de, em grupo, contar suas histórias nos bordados, elas passaram a integrar o processo de diálogo e construção de demandas.

“Ao contar essas histórias nas peças, elas estão transgredindo o próprio papel da costura. Essa técnica serve como uma ferramenta para contribuir nesse processo de organização das mulheres atingidas”

“Com a chegada da lama no Espirito Santo pelo crime da Samarco as mulheres tem seus momentos onde discutimos a realidade da mulheres e pescadoras que foram atingidas e costuram suas histórias.”

Colaboração – Ir. .Ana Helena  Andreão – setembro 2019

  Fonte: Texto disponível em https://revistaforum.com.br/noticias/revolucao-costurada-as-mulheres-que-bordam-a-propria-resistencia/  acesso em 09 de setembro de 2019.