Querida Marielle,
Até ontem, sua vida, suas lutas e suas causas eram conhecidas por alguns. Hoje, tendo sido arrancada brutalmente do meio de nós, você, suas lutas e suas causas são apresentadas ao Brasil e ao mundo. Ainda que com o coração cheio de tristeza, cansaço, revolta, indignação… muitos dirão hoje: prazer em conhecê-la, Marielle! É sempre bom conhecer pessoas que viveram com sentido, pessoas que ousaram sonhar quando tudo à sua volta queria conduzir ao pesadelo!
É curioso, mas seu sobrenome já trazia em si um projeto de vida. Franco significa tanta coisa boa:
“Leal, sincero; não dissimulado; verdadeiro.
Livre de qualquer estorvo; desembaraçado.
Que não se sujeita a outros; independente.
Livre do pagamento de quaisquer direitos ou tributos; isento.
Não constrangido; espontâneo.”
Mas quem não aprendeu a ser franco tem geralmente dificuldade com quem o é. O sangue que corria em suas veias, Marielle – esse mesmo sangue injustamente derramado ontem em nosso duro asfalto – associava a sua vida à história de tanta gente negra, pobre e sonhadora: gente que tem lutado há séculos para que a mordaça e as correntes sejam destruídas de uma vez por todas! Toda vida tem desejo de ser franca!
Infelizmente, sua franqueza lhe custou a vida, Marielle! Mas hoje, enfim, você encontrou uma liberdade que não mais lhe será tirada. Olhe por nós, que ainda estamos no caminho: com a força de seus ancestrais, diante do Senhor que liberta todos os povos, rogue para que a dor que sentimos não sufoque nossa frágil esperança: o projeto covarde, violento e dissimulado daqueles que quiseram calar a sua voz não poderá ter a vitória! Rogue para que todas as nossas senzalas do corpo e da alma sejam abertas! Que o Brasil entenda, de uma vez por todas: nossa Casa só será grande quando houver nela espaço para cada um e cada uma de nós!
Marielle, sua voz calada tornou-se uma convocação: uma multidão de “francos” se levantará! Descanse em Paz, minha irmã! Pe Francys, sj
Colaboração: Ir Rosinha, rscm