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Ir. Maria de Aquino

 

Em 21 de novembro de 1870, na cidade de Chaves, em Portugal, nasceu a sexta filha de Bernardo e Emília, batizada Emília Vieira Ribeiro, Emilinha. Uma criança doce, bondosa, terna. Aos 16 anos, terminado os estudos, sentia que sua caminhada seria junto às religiosas do Sagrado Coração, que chegaram  à  cidade em 1 de maio de 1886 para ali fundar fundado um colégio. Emilinha não duvidou que seria aquele o seu lugar. Sua mãe, porém, não permitiria, sob nenhuma condição. Três anos depois Emilinha ingressou, por decisão própria, no Colégio. Também dessa vez sua mãe não concordou e foi pessoalmente buscá-la, inclusive na companhia de Néper, seu cachorro. Nesse episódio Néper teve um papel curioso. D. Emília, quando chegou ao colégio, ordenou ao cachorro que fosse em busca de Emilinha.  De fato, ele subiu as escadas e a encontrou, no andar superior. Emilinha  voltaria para casa, mais uma vez.

            No entanto, firme e determinada, aguardou o tempo de Deus. O Colégio seria fechado em 1894, para sua tristeza.  Naquele mesmo ano, em agosto, tomou enfim a resolução de ingressar na Congregação. Contou à mãe, já bastante idosa, que faria uma viagem. Ao  mesmo tempo certificou-se  que sua irmã Carlota cuidaria de D. Emília até o fim.  Não deve ter sido fácil: “Meu Deus, só vós podeis exigir o sacrifício de minha mãe velhinha e doente. Eu vo-la ofereço…Em troca, dai-lhe imediatamente o céu quando morrer”[1].  D. Emília ganhou o céu e Emilinha se deu à terra. Ou melhor, a outras terras de outro país.

            Em 18 de agosto de 1894, Emilinha ingressou como postulante no Noviciado do Sagrado Coração de Maria, no Porto.  Findo o postulantado, mudou-se para Béziers, na França, para cumprir o Noviciado.  Recebeu o hábito e seu novo nome em 1897: Ir. Maria de Aquino.  Dois anos mais tarde  Ir. Maria de Aquino voltaria a Portugal para sua primeira atividade apostólica, no Colégio do Porto.  Mestra amável e amada, dizia: “Escolhamos o último lugar, sejamos pequeninas aos olhos das pessoas e seremos amadas por Deus”[2]

            Dali em diante sua vida foi a confirmação de sua escolha, de serviço ao próximo, expressão maior do amor a Deus.  Em 1904  Ir.Maria de Aquino estaria em

Penafiel, para nova missão. Em 1907, estará em Braga, para dirigir o Colégio. Lá  ficou por três anos, até que a Congregação se viu alvo da perseguição religiosa de 1910. Diante da violência e dos ataques sofridos a Ir. Superiora não viu outra saída senão a de enviar cada uma de suas companheiras de volta às  suas famílias, pelo menos enquanto perdurasse aquela situação.

            Mas Irmã Maria de Aquino era por demais forte e corajosa para recuar perante qualquer dificuldade. Em companhia da Ir.Eucaristia foi a Béziers já com firme propósito: assumir nova missão uma terra chamada Brasil.  A Ir.Sainte Constance Farret, ainda que com certo temor, lhe concedeu a autorização!

            Em 21 de fevereiro de 1911 as Irmãs  Maria de Aquino, Maria de Assis e Sainte Foy embarcam no navio Cap Vert, rumo ao Brasil. No abraço de despedida a Provincial lhes disse: “Vocês vão levar o Coração de Maria das terras de Santa Maria para as terras de Santa Cruz”[1]

            Pode-se presumir que não foi uma viagem fácil. No início do século passado não havia nem o conforto nem a velocidade das telecomunicações. Não se tratava de um cruzeiro a singrar o Atlântico.  As três religiosas chegaram às terras brasileiras, no Rio de Janeiro, em 10 de março de 1911 ao meio dia, sem comitê receptivo. Contaram apenas com a ajuda de um primo da Ir. Sainte Foy, o suficiente para organizar novo embarque. Dessa vez, de trem, para a cidade mineira de Mariana. Compraram passagens de segunda classe. Viagem penosa, como se pode supor. Sofrimentos físicos, após longos dias no mar, sofrimentos espirituais, sem saber ao certo o que lhes aguardava. Chegaram a Ouro Preto, exauridas e ainda teriam pela frente mais duas léguas até Mariana, a pé!  Por sorte, o dono de um hotel onde pararam para um descanso e um café – não tinham dinheiro para o almoço – lhes ofereceu transporte, a cavalo. Pobres irmãs. Não tinham a menor experiência. Mas isso nada seria frente a outros obstáculos, muito mais difíceis do que subir no lombo de uma mula.

            Primeiro grande obstáculo. D.Sílvério (1840-1922), arcebispo de Mariana, esperava por religiosas dedicadas aos serviços hospitalares e não aos escolares-educacionais. Nesse caso, restava-lhes seguir para outra cidade, Sete Lagoas. E para

fazer o quê?  Fizeram a viagem em precárias condições, inclusive de saúde e logo retornaram a Outro Preto.  O grupo de irmãs crescera com a chegada, nesse meio tempo, de outras religiosas portuguesas. Eram 17.  E sempre que lhes perguntavam sobre os acontecimentos em Sete Lagoas, nunca expressaram queixas maiores: “Estamos mal acomodadas, mas a gruta de Belém era ainda mais pobre”[1]

            Saltemos alguns anos. Ir. Maria de Aquino escolheu uma pequena cidade mineira para instalar o Colégio Sagrado Coração de Maria. Em 22 de junho de 1911 o Monsenhor Paiva Campos convidava “toda a população para comparecer à estação. A fim de homenagear as recém chegas e participar da instalação do colégio”[2]

            Graças à Ir.Maria de Aquino, Rio de Janeiro – em Vila Isabel e Ubá foram as sementeiras onde frutificou a obra do Pe. Gailhac. Em Ubá, especialmente, no Colégio do Sagrado Coração de Maria, Ir. Maria Aquino pode ver seus ideais postos em prática.

            Em 1925 Ir. Maria de Aquino tornou-se a Provincial Superiora da Congregação e passou a residir no Rio de Janeiro. Desde que deixou Portugal, em 1911, passaram-se vinte e seis anos de vida consagrada ao serviço educacional, em todos os âmbitos. Em 1937, Ir. Maria de Aquino faleceu.  Seu legado só comprova sua grandeza e sua opção radical para servir, amorosamente, as criaturas de Deus:  “Chegando ao Brasil, não sei o que fiz. Nosso Senhor me fechou os olhos e fez-me andar para a frente… No fim, fazia o que não tinha pensado, mas o que Deus queria. Dirigi meu pequenino rebanho não com a aspereza e violência, mas com doçura e mansidão”[3]

[1] Ir. A.DUARTE (org.) Irmã Maria de Aquino. O desafio de um mundo novo. p.26;
[2] Ir. A.DUARTE (org.) Irmã Maria de Aquino. O desafio de um mundo novo. P. 38;
[3] Ir. A.DUARTE (org.) Irmã Maria de Aquino. O desafio de um mundo novo. p. 52;
[4] Ir. A.DUARTE (org.) Irmã Maria de Aquino. O desafio de um mundo novo. p. 76;
[5] Ir. A.DUARTE (org.) Irmã Maria de Aquino. O desafio de um mundo novo. p. 88;
[6]  A. M. DUARTE. A História do Instituto das Religiosas do Sagrado Coração de Maria no Brasil de 1911 a 1926.p.161;