Gustavo, ex-aluno do Sagrado de Vitória

Eu estava sentado no cantinho preferido em minha varanda, ventava bastante e céu cinza escuro anunciava uma pesada chuva de verão, que acabou não acontecendo. Eu olhava distraído para o oiti balançado freneticamente, quando me surpreendi com farto cacho de flores de orquídeas, lindas, em tons de rosa e amarelo.

Faz bastante tempo que não dou nem mesmo a mínima atenção para as orquídeas que eu e minha esposa plantamos em “nossa árvore”, e isso me causa desconforto, mas diante de tantos desafios finjo que esse não me pertence.

Eis que uma delas me provoca e diz. Olá! Eu sei que você não liga para mim, mas sou forte o suficiente para florescer, mesmo sem sua ajuda!
E continuou
– Mas olhe bem para minhas amigas. Elas estão sofrendo. Algumas já não têm mais vida. Você vê e não faz nada? Você se maravilha com o canto dos pássaros e esquece de onde eles buscam seu alimento? 

Temos uma responsabilidade muito grande!!

Pois bem! Minha esposa trouxe consigo na bagagem, além de uma vivência que não se compra na esquina, inúmeros mimos do hotel no qual estava hospedada. Pequenos potes de shampoo, escovas de dentes, etc. Com esses brindes montou alguns kits de higiene para o povo que vive nas ruas.

Fiz, então, contato com o Rodrigo, um rapaz de ouro, que já esteve no fundo do poço das drogas, se recuperou e hoje dedica sua vida a reerguer aqueles para quem a sociedade torce o nariz e quase chuta de suas calçadas.
Conheci o Rodrigo nos meses nos quais produzi marmitas para o povo da rua.

Ele prontamente veio recolher os kits e, mais do que isso, me trouxe para conhecer o Denis: um rapaz que saiu das ruas e, hoje, trabalha dignamente, graças ao emprego que a ele ofereceu.

O Denis é a orquídea que eu deixei de cuidar e que veio me alertar. Mal sabe o que seu brilho nos olhos me disse:

– Gustavo, eu sou a orquídea que você deixou de cuidar, mas floresci.
E continuo! Eu fui mais forte, mas saiba que há muitas outras, apenas esperando que alguém as sustente no caminho para sair do fundo do poço.
E para arrematar disse:
– “Ninguém vive só para si”

Colaboração de Ir. Ana Helena Andreão, RSCM